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ResumoHistoricamente, as guerras foram um dos maiores catalisadores para o avanço da Medicina, e especialmente da cirurgia. Sem dúvida, a maior autoridade da Cirurgia Plástica nas primeiras décadas do século XX foi o neozelandês radicado na Inglaterra Sir Harold Delf Gillies, que se destacou pelo tratamento de pacientes com lesões faciais no contexto da I Guerra Mundial. Nosso artigo faz uma análise da vida pessoal e do legado que Gillies deixou para a cirurgia plástica e reconstrutiva moderna; muitos de seus ensinamentos são atemporais e servem de reflexão para cirurgiões da atualidade. Descritores: História da medicina; Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos; Cirurgia plástica; Guerra; Trauma. |
IntroduçãoO interesse de Sir Harold Gillies, CBE, FRCS (Commander of the British Empire, Fellow of the Royal College of Surgeons) (Figura 1) no tratamento de deformidades nasais e outras anormalidades faciais levaram-no a ser um dos fundadores da cirurgia plástica facial no início do século XX. Apesar de não ter treinamento formal em Cirurgia Plástica, se distinguiu ao tratar inúmeros pacientes com lesões faciais durante a Primeira Guerra Mundial. Gillies despertou seu interesse pelas lesões da face por meio de uma abordagem odontológica, posteriormente passando a acompanhar o cirurgião plástico francês Hippolyte Morestin, que estava realizando as mais avançadas cirurgias reconstrutivas da época no Hospital Val de Grâce, Paris. A partir dessas experiências notou a enorme quantidade de lesões de mandíbula e cranioencefálicas que a guerra de trincheiras estava produzindo. Vista tal necessidade, Gillies fez uso de suas habilidades políticas a favor do desenvolvimento de uma unidade para o tratamento de lesões faciais com abordagem multidisciplinar, inicialmente aplicado no Cambridge Military Hospital em 1916 e transferido para o Queen’s Hospital no ano seguinte (Figuras 2 e 3). Esse modelo proposto obteve tanto sucesso que subunidades foram estabelecidas para oferecer cuidados aos feridos das forças do Commonwealth, como no Canadá, Nova Zelândia e Austrália. |
Entre 1917 e 1923, ele e sua equipe de cirurgiões e odontólogos operaram mais de 5000 pacientes. Algumas das lesões traumáticas guardavam semelhanças com as fendas do desenvolvimento e outras deformidades congênitas e, dessa forma, ajudaram a criar experiência para a aprimoração de suas correções. Os arquivos estão guardados no Gillies Archives, Queen Mary’s Hospital, Sidcup, localização do complexo hospitalar original que incluía hospitais de recuperação e reabilitação. Mutilações faciais graves eram corrigidas com procedimentos cirúrgicos que hoje são parte da história (como enxertos ósseos livres para reconstrução de mandíbula, retalhos de rotação e enxertos tubulares pediculados). Como já foi citado por diversos autores, não há dúvidas de que os feridos do Fronte Ocidental da I Guerra Mundial foram os sujeitos de experimentos que permitiram o desenvolvimento da Cirurgia Plástica moderna5. Após a I Guerra, Gillies foi eleito para o corpo clinico do St. Bartholomew’s Hospital como um dos poucos cirurgiões plásticos britânicos da época, certamente despontando como o líder dessa área5. Acabou por se tornar “consultant”, cargo máximo para um médico no sistema de saúde inglês, da Marinha, da Real Força Aérea, do Ministério da Saúde e de outros seis hospitais. Em contraste com o sucesso dos cirurgiões plásticos na América do Norte do período entreguerras, os cirurgiões plásticos britânicos não conseguiram consolidar a cirurgia plástica na Inglaterra nesse período. Apesar de sua extensa experiência cirúrgica e reputação, Gillies conseguiu atingir muito pouco no período do entreguerras. Havia dificuldade em encontrar cirurgias suficientes para sustentar seu consultório, quanto mais para treinar novos especialistas. Ele também teve dificuldade em manter sua popularidade favorável, já que sua tentativa de expandir o número de casos, realizando procedimentos puramente cosméticos, o trouxeram o falso título de charlatão. Com o início da Segunda Guerra Mundial, Gillies converteu a ala privada do hospital Park Prewett, Basingstoke, em um hospital de cirurgia plástica com 120 leitos. Nessa época o número de cirurgiões plásticos no Reino Unido era de quatro8, ao passo que, nos Estados Unidos, havia em torno de 60 cirurgiões plásticos. Fumante por toda sua vida, Gillies se manteve ativo como professor até sua morte, falecendo subitamente em 1960, aos 78 anos, por doença arterial coronariana. |
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