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Postado em 30 de Setembro de 2020 às 11h43

Enxaqueca

Dra. Dayane Guida (1)

Enxaqueca

Epidemiologia
A enxaqueca (migrânea) constitui a segunda causa mais comum de cefaleia e está entre as 20 principais causas de incapacidade no mundo inteiro de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Aflige cerca de 12% da população anualmente (15% das mulheres e 6% dos homens ao longo de um período de 1 ano). A enxaqueca é uma síndrome recorrente de cefaleia, juntamente com sintomas de disfunção neurológica, como sensibilidade a estímulos sensoriais (luz, som, odores ou movimento); a cefaleia é frequentemente acompanhada de náuseas e vômitos. O cérebro na migrânea é particularmente sensível a estímulos ambientais e sensoriais; os pacientes com propensão à migrânea não se habituam facilmente a estímulos sensoriais. A cefaleia pode ser iniciada ou amplificada por vários deflagradores, incluindo luzes brilhantes, sons, odores ou outra estimulação aferente; fome, estresse ou o desligamento do estresse; esforço físico; condições meteorológicas de tempestade, altitude ou mudanças de pressão barométrica; flutuações hormonais durante a menstruação; falta ou excesso de sono; e álcool ou outras substâncias químicas, como nitratos. A identificação da suscetibilidade do paciente a deflagradores específicos pode ser útil para orientar mudanças do estilo de vida como parte do plano de tratamento.

Fisiopatologia
A sensibilidade sensorial que é característica da enxaqueca provavelmente resulta de uma disfunção dos sistemas de controle sensoriais monoaminérgicos localizados no tronco encefálico e no diencéfalo. A ativação das células no núcleo trigeminal resulta na liberação de neuropeptídios vasoativos, particularmente o peptídio relacionado com o gene da calcitonina (CGRP), nas terminações vasculares do nervo trigêmeo e no interior do núcleo trigeminal. Centralmente, os neurônios trigeminais de segunda ordem cruzam a linha média e projetam-se para os núcleos ventrobasais e posteriores do tálamo para maior processamento. Existem projeções adicionais para a substância cinzenta periaquedutal e o hipotálamo, a partir dos quais sistemas descendentes recíprocos apresentam efeitos antinociceptivos estabelecidos. Outras regiões do tronco encefálico provavelmente envolvidas na modulação descendente da dor trigeminal incluem o locus coeruleus na ponte e o bulbo rostroventromedial. Dados farmacológicos e outros dados indicam a atuação do neurotransmissor, a 5-hidroxitriptamina (5-HT ou serotonina), na migrânea. Uma variedade interessante de alvos neurais está sendo ativamente investigada para um manejo agudo e preventivo da migrânea. Os dados também sustentam o papel da dopamina na fisiopatologia da migrânea. Os sintomas da migrânea podem ser induzidos, em sua maioria, por estimulação dopaminérgica. Além disso, existe uma hipersensibilidade do receptor dopaminérgico nos indivíduos que sofrem de migrânea, conforme demonstrado pela indução de bocejos, náuseas, vômitos, hipotensão e outros sintomas de crise de migrânea por agonistas dopaminérgicos, em doses que afetam os indivíduos que não sofrem de migrânea. Além disso, a ativação hipotalâmica, anterior àquela observada na cefaleia em salvas, foi atualmente demonstrada na fase premonitória da migrânea por meio de exame de imagem funcional, e isso pode fornecer uma chave para entender parte do papel desempenhado pela dopamina no distúrbio.

Diagnóstico e manifestações clínicas
Os critérios diagnósticos para a enxaqueca estão resumidos na Tabela 1. 

Razilly - Cirurgia Plástica e Neurologia Diagnóstico e manifestações clínicas Os critérios diagnósticos para a enxaqueca estão resumidos na Tabela 1. 

Existem várias formas de migrânea que foram definidas: migrânea com e sem aura, migrânea episódica e migrânea crônica. A aura da migrânea, como distúrbios visuais com luzes tremulantes ou linhas em zigue-zague que se movimentam através do campo visual ou outros sintomas neurológicos, é relatada em apenas 20 a 25% dos pacientes. Os pacientes com episódios de migrânea que ocorrem em 15 dias ou mais por mês são considerados portadores de migrânea crônica. A maioria dos pacientes com cefaleia incapacitante tende a apresentar migrânea, em oposição à cefaleia do tipo tensional, que constitui a cefaleia primária mais comum. Os pacientes com migrânea sem cefaleia apresentam sintomas neurológicos recorrentes, frequentemente com náuseas ou vômitos, porém com pouca ou nenhuma cefaleia. A vertigem pode ser proeminente; foi estimado que um terço dos pacientes encaminhados devido a vertigem ou tontura apresenta um diagnóstico primário de enxaqueca. A aura da enxaqueca pode exibir sintomas proeminentes do tronco encefálico (como diplopia, ataxia, alteração da consciência, disartria, zumbido e vertigem).

Tratamento da enxaqueca
Uma vez estabelecido o diagnóstico de enxaqueca, é importante avaliar a extensão da doença do paciente e o nível de comprometimento funcional. Um diário de cefaleia também ajuda a avaliar a incapacidade, bem como a frequência de uso de medicação abortiva. O estilo de vida e algumas orientações constituem um importante aspecto do manejo da enxaqueca. É importante que o paciente entenda que a migrânea é uma vulnerabilidade herdada à dor da cefaleia e associada a sintomas neurológicos e que, embora o distúrbio não possa ser “curado”, a migrânea pode ser modificada e controlada por meio de mudanças no estilo de vida e uso de medicamentos. Além disso, é preciso tranquilizá-los quanto ao fato de que, em geral, a migrânea não está associada a doenças graves ou que comportam risco à vida, porém apresentam grande prejuízo a qualidade de vida.
O tratamento não farmacológico consiste na identificação de deflagradores específicos da cefaleia, evitando-os, e na busca por um estilo de vida regular, incluindo uma dieta saudável (com horários regulares para se alimentar), exercícios, padrões rotineiros de sono, evitar o consumo excessivo de cafeína e de álcool e reduzir ao máximo alterações agudas nos níveis de estresse (p. ex., por meio de biofeedback, meditação ou ioga). As modificações no estilo de vida que são efetivas para reduzir a frequência das cefaleias devem ser mantidas de modo rotineiro, visto que proporcionam uma abordagem simples e custo-efetiva para o manejo da migrânea. Se essas medidas não conseguirem evitar uma crise, há necessidade, então, de medidas farmacológicas. O tratamento farmacológico consiste em medicações utilizadas no momento da dor e fármacos utilizados diariamente, por um período determinado, com a finalidade de prevenção das dores. O uso indiscriminado de analgésicos é desaconselhado e pode levar a piora da enxaqueca. O tratamento farmacológico bem como a sua duração são individualizados, procure o seu neurologista para que seja realizado o tratamento de forma correta e eficaz.

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